Conhecendo a Baía de Pinheiros
Os Preparativos
Descemos até Paranaguá, descarregamos o carro no trapiche e levamos a viatura para o estacionamento.
Esperamos um pouco e logo chegou também um casal de amigos, que estavam indo pedalar na Praia Deserta. Pegamos um táxi náutico para fazer a travessia para Superagui e logo estávamos no camping do seu Pacheco. Curtimos o resto do dia na praia, preparando o corpo e a mente para o dia seguinte.
A Vila do Superagui é uma das maiores comunidades das ilhas do litoral paranaense (junto da Ilha do Mel e Ilha das Peças) e com o aumento do turismo, tem oferecido cada vez mais comodidades aos visitantes.
São vários serviços como restaurantes, mercearias, campings, pousadas, passeios de barco, aluguel de bicicletas, entre vários outros. Mas um serviço que se destaca na Ilha do Superagui é o Bar Akidov – onde é tocado o famoso fandango caiçara e servida a famosa Cataia, o Whisky Caiçara.
O bar fica próximo ao trapiche, pegando a trilha principal (não fica à beira mar). É um ponto de encontro dos moradores da ilha e dos turistas. Embora o bar abra durante o dia também, é durante a noite que a coisa fica boa. Os moradores da ilha que formam um conjunto de Fandango (ritmo típico da região) vão chegando e logo começa o arrasta pé.
O Fandango Caiçara
O instrumento que mais se destaca no Fandango caiçara é a rabeca. Instrumento que lembra o violino, porém de construção mais simples. Os instrumentos tocados pelo grupo são em sua maioria de produção artesanal, muitas vezes construídos pelo próprio músico. Vale a pena conhecer um pouco da história desses músicos e seu ritmo próprio.
A Cataia
A Cataia é sempre uma história a parte quando se fala da Ilha do Superagui. Embora seja uma bebida simples, conseguida curtindo algumas folhas de uma planta específica na cachaça, o charme da Cataia está na dificuldade em se conseguir as folhas. Poucas pessoas sabem ao certo quem inventou a bebida, mas é certo que suas folhas nascem apenas em alguns lugares da ilha e região, tornando a bebida um patrimônio do Superagui.
Da Vila de Superagui à barbados
Na manhã seguinte, estávamos na praia preparando o barco para entrar em um mar completamente parado. Nenhuma ondulação para atrapalhar o dia. Começamos a remar para nos afastar da vila e logo estávamos em frente ao cemitério.
Acredita-se que esteja sepultado ali o famoso pintor Suíço Guilherme William Michaud (Vevey, Suíça em 1829 - Colônia do Superagüi, PR em 1902), que viveu na região durante a segunda metade do século XIX. Michaud ficou famoso por retratar a região do Superagui no período em que a ilha era um dos principais centros produtores do Paraná. Nesse período a atividade pesqueira era o algo a mais para a economia da ilha, suas principais atividades eram o beneficiamento de madeira - exportada para Argentina, a produção de vinho, milho, café, entre outras culturas.
Além de Wilian Michaud, alguns outros suíços recolonizaram a região no século XIX, participando desse ciclo econômico da ilha do Superagui. Entre eles Robert Melly, o cônsul da Suíça Carlos Perret Gentil e o naturalista alemão, que se hospedou na região durante um tempo, Julius Platzmann.
Antes de nossa partida da vila do Superagui, tanto o Seu Pacheco, quanto outras pessoas com quem conversamos, nos disseram que alguns pescadores haviam visto uma onça rondando a região do cemitério. Fomo lá conferir e realmente, na prainha que existe ao lado da entrada do cemitério encontramos diversas pegadas de animais, entre elas uma que me deixou curioso.
Não vimos onça e não sei se essa pegada pertence a uma, mas preferimos não ficar arriscando por ali.
Os Golfinhos
Ao longo do caminho fomos acompanhados pelos Botos-Cinza da Barra do Superagui. O tempo todo os víamos cercando cardumes e emergindo para respirar, muitas vezes em grupos com até sete golfinhos. Os Botos-Cinza são uma espécie de golfinho pequeno, com aproximadamente 2 metros de comprimento e de grande ocorrência na região – que é um berçário da espécie. Avistá-los e ficar acompanhando esses cardumes de dentro do caiaque é incrível. Como não fazemos barulho, eles chegam muito próximo.
A Tribo Indígena
Também havia uma tribo indígena próxima ao nosso caminho até alguns anos atrás, mas que hoje foi retirada da região pelas autoridades. Não vimos nenhum indício disso.
Aportamos na praia ao lado e aproveitamos para comer alguma coisa e curtir a paisagem. O dia havia começado bastante frio, mas já começava a esquentar com o sol - dando início ao ritual de tirar as camadas de roupas. Colocamos o barco na água novamente e mais algumas remadas e estávamos em frente a Colônia Superagui.
A comunidade da Colônia Superagui (Saco do Morro, Colônia Velha)
A Colônia do Superagui é uma pequena vila entre a Barra do Superagui e a Comunidade de barbados. Sua fundação remonta aos primeiros esforços colonização europeia da região e hoje exibe a fachada de sua igreja histórica, de frente para o mar. Com algumas poucas casas.
A antiga Colônia Suiça
No ano de 1852, o embaixador Suíço em São Paulo, Charles Perret Gentil adquiriu 35 hectares de terra na região do Superagui. Nesta área que compreendia parte da Ilha das Peças e parte da atual Ilha do Superagui. Inicialmente, fixaram-se 13 famílias entre Suíços, Franceses e um Dinamarquês. Além de outras famílias brasileiras que já habitavam o entorno da colônia.
A Maré estava subindo e nos empurrando para o nosso destino. Com exceção de um pequeno trecho um pouco mais exposto ao vento, entre a ilha do guará e a Vila de barbados existe um braço de mar na ilha do Superagui, que deve ser cruzado em linha reta, mirando a ponta da Vila de Barbados. Tirando isso, foi a remada mais fácil que fizemos. Quando menos esperávamos, surgia de trás de Morro do Barbudo, a comunidade de Barbados. Com todo o conforto e segurança de uma pequena enseada com um bom trapiche. E uma prainha ao lado do trapiche.
A comunidade de Barbados
O relevo dessa vila também é um pouco diferente, já que ela fica no pé de um morro. Deixando ainda mais charmosa a comunidade.
A vila não possui grande estrutura para turistas, por isso, chegamos e já fomos nos informando sobre o restaurante do Seu Antônio Lopes (indicação do Seu Pacheco, da Vila do Superagui).
Restaurante Antônio Lopes
A principal opção de alimentação da vila é o restaurante do Sr. Antônio Lopes (infelizmente, não pudemos conhecê-lo, pois ele estava bastante doente naquela ocasião. O restaurante chama-se Natura e serve um excelente almoço, com peixe, camarão, ostras fresquíssimas e acompanhamentos.
A paisagem do restaurante também é um show a parte. Como toda a vila fica no pé do morro, as construções ficam um pouco acima do nível do mar, dando um toque a mais na paisagem.
Infelizmente, o Sr. Antonio Lopes faleceu no final de 2018, sendo o restaurante mantido por seus descendentes.
As Ostras
Um dos destaques do restaurante da família Lopes são as ostras, criadas em “lanternas” na praia em frente ao restaurante. Essas lanternas são pequenas estruturas onde são depositadas ostras pequenas, sem valor comercial, para que elas continuem crescendo. Dessa forma, eles só extraem do mar as ostras que serão usadas em suas cozinhas - deixando as demais crescendo no mar.
Conforme iam chegando os clientes, o neto do Sr. Antonio lopes pegava a canoa e retirava as ostras que seriam servidas.
Para quem é fã de ostra, esse é um destino quase obrigatório.
A Paisagem da Barra do Superaguí
Além das vilas na Ilha do Superagui, existe a vila de Bertioga na Ilha das Peças, as Ilhas do Pinheiro e Pinheirinho – onde ocorrem as revoadas dos Papagaios da Cara-Roxa.
Bertioga
Bertioga fica praticamente de frente para a Vila de Barbados, a uns vinte minutos remando. É uma comunidade um pouco maior que as outras, possuindo 3 ou 4 trapiches e, segundo Seu Pacheco, tem tudo. Camping, pousada, restaurante, etc.
Mas não fomos até lá nessa viagem.
Ilha do Pinheiro
Fica bem em frente a Vila de Barbados, mais próximo que a Vila de Bertioga. Porém, a ilha é cercada de barcos de pesca e a aproximação um pouco mais perigosa – de caiaque. Além das revoadas dos Papagaios da Cara Roxa – ou Papagaios Chauá, a ilha é famosa por algumas ruínas do século XIX. Também não nos aproximamos dessa ilha, dessa vez.
Ilha do Guará
A Ilha do Guará, na verdade, são algumas pedras acima do nível do mar. Muito perigosa para a navegação de lanchas durante a noite, mas perfeita para pescadores e caiaquistas, que podem se aproximar e até aportar.
Contornamos a ilha com bastante cuidado para não raspar em alguma pedra pontiaguda ou galho, mas é bem tranquilo.
A Maré do Retorno
Após passarmos a Ilha do Guará o caminho é muito mais tranquilo, voltamos a margear a Ilha do Superagui e pudemos aportar em uma prainha bem convidativa.
Após retomarmos as energias, voltamos para o mar e seguimos um pouco mais afastados da margem, aproveitando a maré vazante, que nos levou até a frente do Camping e pousada do Pacheco – às 17h30, após aproximadamente 20Km de remada.
E ainda tivemos tempo de curtir um pôr do sol na praia da Vila do Superagui.
Dicas
É sempre bom lembrar que para conhecer a ilha você vai precisar de algumas coisas, conforme sua preferência. Entre elas:
- calçado amaciado para caminhar
- chinelo
- roupa impermeável - lá sempre chove
- roupas leves
- chapéu/boné
- protetor solar
- óculos escuros
- repelente
Fique Atento (dicas do ICMBio)
Preserve os sítios históricos e respeite a cultura local;
A baía das Laranjeiras/Rio das Peças é importante área para cetáceos (mães com filhotes), assim como a baía dos Pinheiros (área de alimentação), portanto a navegação nesses locais restringe-se ao transporte. Não pratique esportes náuticos motorizados (lanchas, esqui aquático e jet ski), pois são prejudiciais aos cetáceos e interferem no cotidiano das comunidades de pescadores artesanais;
Do Parque nada se tira, além de fotos, nada se leva além de lembranças, nada se deixa além de pegadas. Animais, plantas, rochas, frutas, sementes e conchas devem permanecer nos locais encontrados. Todo o lixo produzido, deve ser coletado e depositado em local apropriado;
Não acenda fogueiras, pois incêndios se propagam rapidamente na vegetação de restinga;
Acampe somente nos camping das comunidades. Não é permitido pernoitar na Praia Deserta e na comunidade extinta de Ararapira Velha;
Risco de acidentes com insetos, cobras, aranhas, escorpiões e outros animais;
Risco de acidentes com água-viva;
Os trechos de caminhadas são acidentados, portanto não saia da trilha e observe galhos e outros obstáculos para evitar acidentes;
Utilize salva-vidas enquanto embarcado;
Telefones úteis
Corpo de Bombeiros de Paranaguá: (41) 3423-1202
Hospital Regional de Paranaguá: (41) 3420-7400
Batalhão de Polícia Ambiental de Paranaguá: (41) 3420-9400
Hospital Municipal de Guaraqueçaba: (41) 3482-8150
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Serviço
Hospedagem
Camping do Pacheco
Lucian - (41) 9 8430-0639
Alimentação
Restaurante Antônio Dias
Osni - (41) 9 8491-5444 / (41) 9 8454-3990
Transporte
Nessa ocasião os barcos de linha não estavam operando, tendo sido feitas as travessias de ida e volta em barcos menores 0 táxi náutico (sem banheiro).