Uma Viagem para Conhecer Lugares, Pessoas e Histórias
Com a ideia na cabeça, só faltava preparar as tralhas para fazer a trip no Carnaval 2018.
O problema foi ter a ideia na quinta-feira antes do carnaval.
Os Preparativos
Separando a bagagem - barraca, isolante, saco de dormir, sacos estanques, lanternas, repelente, protetor solar, fogareiro, panelas, pratos, roupas, água, comida, mais água, alforjes e ... um caiaque, com dois remos.
Era muita coisa, e precisávamos de uma solução de emergência - um Triciclo Brinquedos Bandeirantes.
O Parque Nacional do Superagüí é uma área de preservação ambiental criada em 1989 e alterada em 1997, para incluir um maior número de comunidades dentro da unidade.
Embora o parque tenha o mesmo nome da ilha, sua área abrange outras ilhas e até comunidades no continente, como: Barbados, Canudal, Vila Fátima, Ararapira, Barra do Ararapira, Rio dos Patos e Abacateiro. O único acesso a essas comunidades é por via marinha, em barcos fretados - já que não existem barcos de linha até lá. Já estamos planejando mais incursões para conhecer essas comunidades.
Frequento a ilha desde 2004 e percebo que hoje é bem mais prático fazer esses passeios. São mais barqueiros prontos para levar os turistas para os mais variados lugares durante a temporada. Fora da temporada de verão é um pouquinho mais difícil.
Segundo o ICMBio, o parque é considerado Sítio do Patrimônio Natural (UNESCO,desde 1999), Reserva da Biosfera (UNESCO, desde 1991) e Patrimônio Natural e Histórico do Paraná (Paraná, desde 1970).
A Travessia para a Ilha
O horário de partida do barco que faz a travessia para a Ilha de Superagui, pela manhã, é um pouco mais exato - em torno das 9h, mas procure se informar (Associação dos Barqueiros do Litoral Norte do Paraná - fone |41| 3425-6325). Geralmente os barqueiros esperam um pouco mais para ver se aparece mais algum passageiro.
A travessia leva em torno de 2h, mas dependendo das condições do mar, o barqueiro pode optar pelo caminho pela baía de Pinheiro (por trás da Ilha das Peças) - já levamos 5h por essa rota, mas é raro. Esse barco vai até o trapiche da Comunidade da Barra do Superagüi. A maior, de mais fácil acesso e onde se encontram a maioria dos serviços da ilha, como restaurantes, campings e pousadas.
A Vila do Superagui é onde você vai encontrar um pouco mais de agito na Ilha. Lá, durante a temporada, tem o famoso Fandango Caiçara - tocado pelos pescadores da ilha, no bar Akdov. Tudo regado a muita cataia (que é uma bebida a base de folhas de plantas da ilha e cachaça).
Da Vila do Superaguí, que fica no sul da ilha, até a Barra da Ararapira - onde começamos a remar, tem a famosa Praia Deserta. São quase 30 Km de praia, onde moram 4 ou 5 famílias.
Existem dois caminhos para acessar a Praia Deserta, que fica voltada para o mar aberto (do outro lado da ilha, quando saímos da Vila da Barra do Superaguí).
O primeiro e mais comum é a trilha para a Praia Deserta, que vai por dentro da restinga, atravessando alguns pequenos rios (todos com pontes hoje em dia). A trilha é totalmente plana, podendo ser feita de bicicleta ou a pé. O tempo de caminhada varia muito, principalmente se você tiver uma máquina fotográfica na mão.
Ao final da trilha, quando ela se abre na praia, existem alguns mastros com bandeirinhas na ponta. Marque bem esses palanques, para achar a trilha na volta.
A segunda opção de acesso é pela praia, contornando o sul da ilha. A dificuldade dessa rota é a travessia do rio formado pelos pequenos rios que atravessamos pela trilha. Durante a maré alta a travessia desse rio pode ser mais difícil - se você estiver de bicicleta. Na maré baixa é possível atravessar pedalando.
Esse caminho é um pouco mais longo, mas tenho preferido ir por ele pela paisagem.
Nessa viagem, como eu estava puxando meu triciclo de estimação, preferimos dar a volta pela praia e atravessar o rio com a bagagem no lombo.
A Praia Deserta
Passamos nossa primeira noite da trip acampados na Barra do Superaguí, de onde partimos no outro dia às 9h (já que o pico da maré baixa seria às 10h).
Eu sempre procuro marcar a travessia da Praia Deserta com a maré baixa - na maré alta, dependendo da intensidade, você poderá ser empurrado para a areia fofa, tendo que esperar a maré baixar.
A Barra da Ararapira
Chegamos na Barra da Ararapira e acampamos no quintal do Dico, filho do seu Rubens - figura fantástica, profundo conhecedor das histórias da Ilha (em especial, as histórias da Vila de Ararapira - 15 Km ao norte da Barra da Ararapira).
Bem em frente a Barra da Ararapira fica a comunidade da Praia do Pontal, na Ilha do Cardoso - já no estado de São Paulo.
No dia seguinte, Colocamos o caiaque na água e rumamos sentido Ariri - SP, subindo o braço de mar entre as ilhas do Superaguí e do Cardoso. Já pela manhã, percebemos que a tensão com os barcos a motor seriam uma constante durante o dia. Então, logo atravessamos a barra para remarmos às margens da Ilha do cardoso, onde era mais raso e os barcos a motor não conseguem navegar.
Mais a frente, atravessamos novamente a barra para entrar no braço de mar sentido Vila da Ararapira. A famosa vila fantasma, ou vila abandonada. Mas que na verdade é habitada por um único morador, o Negão.
São diversas as razões que levaram os moradores a abandonarem a vila - problemas políticos, com a disputa entre Paraná e São Paulo pela divisa dos estados; pressões econômicas de investidores que queriam comprar as terras dos caiçaras; a invasão de búfalos, que destruíram suas plantações; entre outros casos ocorridos antes da criação do parque. Se tiver oportunidade, troque uma ideia com o seu Rubens, na Barra da Ararapira - ele viveu toda essa história.
Depois que passamos pela Vila de Ararapira, seguimos mais alguns minutos remando até a Vila de Ariri - já no estado de São Paulo. Uma simpática vila de pescadores, que aos finais de semana recebe dezenas de pescadores. Com completa infra-estrutura, onde encontramos pousadas, restaurantes e outros serviços. O Ariri é a primeira vila continental no litoral sul de São Paulo, na entrada do canal do varadouro. Mas esse é um caminho para uma próxima trip.
O canal do varadouro é uma passagem artificial, escavada entre o continente e a Ilha de Superaguí (na verdade, a ilha era parte do continente, tendo se transformado em ilha após a abertura do canal). O Varadouro liga a Vila de Ariri a Baía de Pinheiro, sendo uma importante comunicação entre as vilas da baía (Canudal, Vila Fátima, Rio dos Patos e Abacateiro) com o continente.
Outras Comunidades da Região
Além dessas comunidades, que possuem acesso bem mais difícil, existem outras um pouco mais acessíveis.
Barbados e Bertioga são duas comunidades mais próximas da Vila de Superaguí, saindo do trapiche, sentido baía de pinheiros. Por ali é possível encontrar ruínas da colonização da região, da época do Suíço Willian Michauld - falecido em Superaguí em 1902.
Nessas vilas, também no século XIX, os moradores mantinham seus roçados e parreiras, de onde tiravam as uvas que tornaram a Ilha de Superaguí um dos maiores produtores de vinho do Paraná, no século XIX.
Um pouco mais distante da Ilha do Superaguí ficam as Vilas do Sebuí e de Tibicanga. Ambas mais próximas de Guaraqueçaba. Tibicanga, é uma das vilas de pescadores da Ilha das Peças - na entrada da baía de Pinheiro.